Powered By Blogger

sábado, 22 de novembro de 2014



E
Executivo detalha esquema e roteiro da propina na Petrobras
Depoimento aponta quem corrompeu e como o dinheiro do suborno pago em contratos com a estatal foi enviado ao Exterior





Conforme o depoimento, pagamento de propina também teria ocorrido em contrato de 2007 para ampliação da Replan, maior refinaria da estatal em capacidade de processamento de petróleoFoto: Petrobras / Divulgação


Quem corrompeu políticos e servidores? Quem foi corrompido? Como o dinheiro circulava? Onde foi parar a verba desviada para o Exterior? Parte do roteiro do escândalo Petrobras foi revelada por um executivo que estava no centro dos acontecimentos.


O lobista Julio Camargo, que atuou a serviço das empreiteiras Toyo Setal eCamargo Corrêa, fez acordo com o Ministério Público Federal (MPF) no qual descreve obras da Petrobras intermediadas por suas empresas de consultoria e nas quais ele afirma que houve desvio de recursos.


Três consultorias eram usadas


Camargo detalha como o pagamento de propina foi feito a partir de contas nos bancos Winterbotham (no Uruguai), Credit Suisse e Banque Cramer (ambos na Suíça). Ele usou para isso empresas offshore (conta bancária em paraíso fiscal).


As contas estavam em nome dele ou de suas três empresas de consultoria: Auguri, Treviso e Piemonte. Em todos os casos, Camargo diz que as empreiteiras não sabiam das propinas, apenas pagavam por “consultoria”. Um roteiro que propiciou as 24 prisões deflagradas pela PF nessa etapa da Lava-Jato.


Além de Camargo, outro executivo da Toyo Setal, Augusto de Mendonça Neto, relatou aos investigadores o pagamento de propina em obras da Petrobras. Ouvidos pela PF, os dirigentes da Camargo Corrêa preferiram não falar no inquérito.





Revap (foto acima)


Camargo diz que houve exigência de propina por parte de Paulo Roberto Costa (então diretor de Abastecimento da Petrobras, ligado ao PP) e Renato Duque (então diretor de Serviços da estatal, ligado ao PT), para construir uma unidade da Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), em 2007. O executivo afirma ter pago o suborno, com auxílio de Pedro Barusco (então gerente de Serviços), com transferências para contas de Barusco e de Duque no Exterior ou em reais disponibilizados no Brasil pelo doleiro Alberto Youssef.




Em outro contrato com a Revap, no valor de R$ 1 bilhão (também em 2007), Camargo diz que recebeu R$ 23,3 milhões de comissão, na conta da Treviso Empreendimentos (sua empresa de consultoria). Do valor, repassou R$ 6 milhões como propina para Duque, a maior parte no Exterior e o restante em reais, no Brasil. Realizou repasses de suas contas no Credit Suisse para contas indicadas por Duque e Barusco. “Se não pagasse, o contrato não saía”, diz Camargo.


Replan


Em 2007, foi firmado contrato de ampliação da Refinaria de Paulínea (Replan), no valor de R$ 1 bilhão. Camargo admite que ficou responsável por operacionalizar as propinas envolvidas no negócio, mas não detalha quanto foi pago, nem para quem.




A Replan, segundo o site da Petrobras, é a maior refinaria da estatal em capacidade de processamento de petróleo: 415 mil barris por dia. A produção da planta, inaugurada em 1972, corresponde a 20% de todo o refino de petróleo no Brasil. No início da década de 1970, 126 mil barris eram processados por dia.





Para viabilizar a construção de uma unidade da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, Camargo usou uma de suas consultorias, a Auguri, para intermediar pagamento de propina a dirigentes da Petrobras. Duque e Barusco teriam exigido R$ 12 milhões de suborno.




Os pagamentos, intermediados pelo doleiro Youssef, foram em parcelas bimestrais e feitos em contas em Hong-Kong e China. Indagado se os executivos das empreiteiras sabiam do suborno, Camargo afirma:




– Não se falava sobre isso, já que cobrava um percentual para intermediar os negócios. Era eu quem atuava junto aos diretores da Petrobras.




Houve um segundo contrato, para uma usina de recuperação de enxofre, retificação de águas ácidas e tratamento de gás residual, no valor de R$ 2,4 bilhões. Para intermediar o negócio, Camargo recebeu R$ 40 milhões (2% do contrato).




O dinheiro foi repassado a ele por Youssef, em escritórios no Rio e em São Paulo. Camargo diz ter enviado R$ 12 milhões de propina a Barusco, que agia em nome de Duque. O pagamento foi feito em nome da offshore Drenos, mantida por Duque no banco suíço Cramer.


Gasoduto


A Camargo Corrêa venceu licitação de R$ 427 milhões para executar trecho da obra do gasoduto Urucu-Manaus. Camargo recebeu R$ 15 milhões de comissão e diz ter pago

R$ 2 milhões de propina para Duque, via Barusco, para viabilizarem o negócio. O pagamento foi feito pela Piemonte, empresa de consultoria de Camargo – parte na Suíça, parte no Brasil. O gasoduto iniciou as operações em 2009 e tem extensão de 663 quilômetros (trecho Urucu-Manaus) mais 139 quilômetros até Coari (AM).





Comperj (foto acima)


O delator afirma que houve irregularidade na construção de unidade de hidrogênio no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em 2012. Camargo diz que a propina não foi paga por ele, mas por executivos de outras empreiteiras do consórcio.

O total de suborno foi 1% para os dirigentes das diretorias de Abastecimento e de Serviços da Petrobras. “Era a regra do jogo”, resume o denunciante, sem mencionar valores.


Sondas de perfuração


Camargo diz que agiu, em 2005, em nome da Samsung para intermediar a construção de duas sondas de perfuração para águas profundas, a serem usadas no Golfo do México e na África. O executivo procurou Fernando Soares, o Baiano, para viabilizar o serviço na Diretoria Internacional da Petrobras.




Os dois se reuniram com o então diretor da área, Nestor Cerveró e acertaram o negócio. Camargo diz que levou US$ 53 milhões e, desses, repassou US$ 40 milhões como suborno a Soares. Os pagamentos foram feitos a uma off-shore controlada por Soares, de nome Harley, intermediados por Youssef. Camargo diz que a Samsung não sabia das propinas pagas.





Cabiúnas (foto acima)


Trata-se de uma estação de compressão de gás em Macaé (RJ). Camargo usou a Treviso para intermediar o contrato para a Toyo, em 2007. “Os representantes da Toyo não sabiam que parte da despesa com consultoria era para pagar propina”, enfatiza o executivo. Ele diz ter pago R$ 3 milhões para Duque e Barusco como “vantagem indevida”. Para o Cabiúnas 3, terminal petrolífero construído em Macaé ao custo de R$ 1 bilhão, Camargo diz também ter pago propina.






Zero Hora

Entre em contato conosco!