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domingo, 4 de agosto de 2013

Gre-Nal 397

Gre-Nal 397 será o segundo confronto entre Dunga e Renato no clássico

Agora como técnicos, eles se enfrentaram em campo como jogadores pelo Gauchão de 1983

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Gre-Nal 397 será o segundo confronto entre Dunga e Renato no clássico Ilustração/Gonza Rodriguez
Renato e Dunga se enfrentarão pela primeira vez como técnicos de Grêmio e Inter          
Renato e Dunga são símbolos da dupla Gre-Nal. É curioso que tenham se enfrentado apenas uma vez em um clássico. Aliás, que tenham se enfrentado apenas uma vez na vida. Este domingo, na Arena, marcará o segundo encontro entre eles. Agora como técnicos de Grêmio e de Inter.

O primeiro confronto foi no Gre-Nal 265, em um domingo, 2 de outubro de 1983, que terminou em 1 a 1. Mauro Galvão ainda jogava no Inter, sequer sonhava tornar-se campeão brasileiro e bicampeão da Copa do Brasil pelo Grêmio, quando fez o gol colorado. Osvaldo empatou em seguida. Osvaldo estreava no clássico, enquanto Galvão jamais havia marcado contra o Grêmio.

Naquela tarde de temperatura amena, o Beira-Rio recebeu 37.452 pagantes. Boa parte do estádio vestia azul. Apenas dois incidentes foram registrados pela Brigada Militar (que contava com um contingente de 300 policiais no estádio): o socorro a um torcedor que, no intervalo, deixou cair uma garrafa de cerveja e cortou a própria mão; e um sócio colorado que por pouco não brigou com um torcedor gremista por causa da namorada. Um pedaço da Porto Alegre do começo dos anos 1980 estava representado no jogo.

Para o campeonato, o clássico pouco valia. Apenas a chance de seguir na briga por um ponto extra no primeiro turno do Gauchão. O formulismo da época fez com que os dois times chegassem ao final da partida exaustos. Pudera. Estavam jogando aos domingos, às terças e às quintas. Sempre pelo Estadual, que era disputado no segundo semestre - e que tinha um peso bem maior do que os torneios atuais, muitas vezes disputados por equipes suplentes. Mas o Gre-Nal tinha o seu atrativo. Apesar de ser outubro, foi o primeiro clássico do ano com as duas formações titulares.

O Grêmio era campeão da Libertadores há 66 dias. Vestia a alemã Adidas. O Inter havia assinado 24 horas antes do jogo com a francesa Le Coq Sportif. Em 83, a Le Coq surgia como a grande marca emergente do futebol mundial. Tinha em seu casting camisas 10 como Platini e Maradona, que vestiram a grife do galinho na Copa da Espanha, um ano antes. Era um período ainda romântico no futebol gaúcho.

Valdir Espinosa, com seus muitos cigarros consumidos na casamata do Beira-Rio durante o clássico de outubro, nem imaginava que o apadrinhado Renato se transformaria em mito, 70 dias depois deste jogo, no Estádio Nacional de Tóquio, ao conquistar o Mundial. O lateral-direito Espinosa deixou o Esportivo e aceitou o convite para ser auxiliar técnico de Oberdan no Grêmio, em 1980.

Nas suas últimas semanas de Bento Gonçalves, Espinosa estava acostumado a passar trabalho nos coletivos contra um atrevido ponteiro chamado Renato. O abusado juvenil de 18 anos já despertava interesses em Porto Alegre. E não era no Olímpico. Através de dirigentes das categorias de base, o Inter estava de olho no atacante.

Mas o atilado auxiliar de Oberdan deixou o Olímpico em alerta antes da oferta dos colorados. O então diretor das categorias de base gremista, José Carlos Leão Russowsky, confiou no aspirante a treinador e, mesmo ao entardecer, pediu a Kombi do clube, chamou o motorista, e rumou a Bento. Negociou com o presidente do Esportivo Ivo Pozza a compra de Renato, em uma noite serrana de julho.

Gre-Nal terminou mais cedo para Dunga
Ao final do clássico 265, seis jogadores do Inter trocaram as camisetas com os gremistas. Entre eles, o lateral-esquerdo André Luís, o 6 do Inter _ que durante a partida foi um marcador ferrenho sobre Renato e que, depois do jogo, precisou contatar o camisa 7 gremista, através das emissoras de rádio presentes aos dois vestiários, a fim de pedir de volta os uniformes.

O Inter tinha recebido apenas dois ternos da fornecedora francesa e precisava recuperar a meia-dúzia de camisetas porque, na terça-feira, jogaria na Boca do Lobo contra o Pelotas. O Grêmio, é claro, devolveu as camisas, mas Renato tirou uma onda dos colorados antes de pedir que elas fossem recolhidas e entregues ao vestiário principal do Beira-Rio.

Neste Gre-Nal, os novos reforços da Dupla ainda não haviam estreado, o ex-colorado Mário Sérgio havia sido contratado pelo Grêmio, enquanto o atacante Milton Cruz _ auxiliar técnico permanente do São Paulo_ era a nova esperança de gols para o Inter de Dino Sani.

O Gre-Nal acabou aos 45 minutos para Dunga. O promissor volante do Inter, que aos 15 anos já vestia vermelho e branco, nos infantis do Beira-Rio, chegado de Ijuí, havia feito um primeiro tempo primoroso no clássico. Ao lado do uruguaio Rubén Paz, surgia como um dos destaques do time.

Na cotação de ZH daquele jogo, recebeu nota 8. Saiu no intervalo, por causa de uma unha. Sim, a do dedão do pé direito. Enquanto Renê Weber (que depois voltou ao Inter como auxiliar do técnico Paulo Autuori) o substituía e formava o meio-campo com Ademir Kaefer e Rubén Paz, Dunga estava no vestiário, passando por uma mini cirurgia: tinha a unha arrancada, após receber um pisão no clássico.

— Olha, para que o Dunga deixasse o jogo, precisava ter recebido um pisão muito forte. Desde os juniores, ele era casca grossa. Não aceitava derrotas — recorda Mauro Galvão, aos 51 anos, atualmente diretor executivo das categorias de base do Vasco.

— Como jogador, o Dunga sempre foi um cara pegador. Era um risco entrar em uma dividida com ele, mas jamais foi maldoso — conta o ex-meia Osvaldo, hoje com 55 anos e dono de uma loja de autopeças em Santa Bárbara do Oeste, no interior paulista.

Se Dunga era um misto de volante e de armador no clássico, Renato era o grande temor do Inter naquela tarde. Além de André Luís, Dino havia montado pequenas blitze sobre o ponteiro. Se Renato escapasse do lateral-esquerdo, teria pela frente um paredão formado por Ademir Kaefer, além da zaga clássica do Inter no começo dos 1980: Mauro Pastor e Mauro Galvão.

— Era um duelo, mas só com o André Luís. Mas colocaram uma gangue para me marcar. Eu não tinha espaços, quando passava por um, havia mais dois ou três à minha espera — ironizou Renato, durante as entrevistas feitas no vestiário, com os jogadores enrolados em toalhas, logo após o banho, ainda no Beira-Rio.

— Renato sempre foi um jogador muito forte fisicamente e de imensa qualidade técnica. Se deixasse ele arrancar, acabava dentro do gol. Era preciso ter sempre alguém na sobra. O André Luís dava o primeiro combate. Se Renato fugisse, eu vinha na sequência, seguido pelo Ademir e pelo Pastor — recorda Galvão.

Separados no clássico, juntos na Seleção
Mauro Galvão marcou o 1 a 0 logo no primeiro minuto do segundo tempo. Foi na "goleira do placar". Após uma cobrança de escanteio do ponta-esquerda Silvinho, André Luís cabeceou a gol, Mazaropi deu rebote e Mauro Galvão chutou a bola no peito do lateral-direito Paulo Roberto, que já estava dentro do gol.

Mas a alegria em vermelho durou nove minutos. Em desvantagem, Renato começou a agitar os braços, pedindo que a torcida gremista incentivasse a equipe. Foi atendido de pronto.

A cantoria começou logo no recomeço do jogo. Aos 10 minutos, com um a menos em campo - pois Luís Carlos (que depois virou Luís Carlos Winck) estava sendo atendido fora de campo -, Paulo Roberto cruzou em diagonal para a área, onde Osvaldo dominou e bateu com força, no ângulo de Benitez.

Como um bom Gre-Nal, houve discussão de lado a lado sobre os gols. Os gremistas reclamaram que Paulo Roberto tirou a bola de Mauro Galvão de cima da linha, não de dentro do gol. Os colorados, alegaram que Osvaldo estava impedido ao marcar.

— Sempre houve bronca em Gre-Nal. Mas acertamos nos dois gols daquele clássico: no primeiro, a bola entrou, no segundo, não houve impedimento — assegura o árbitro do clássico 265, Roque José Gallas, hoje com 70 anos.

— Renato tinha fama de rebelde. Comigo, sempre foi respeitoso. Um grande atleta e um cara bom caráter. Dunga também. Desde a base, sempre jogou duro, mas nunca foi bandido em lance algum. Foram dois jogadores de personalidade forte e honestos — diz Gallas.

A temporada chegou ao fim com Renato e Dunga campeões. O camisa 7 havia tornado-se uma lenda gremista em dezembro de 1983. O camisa 8 colorado demoraria alguns anos mais para entrar para a história do futebol, erguendo a Copa do Mundo de 1994, em Los Angeles, como capitão da Seleção Brasileira.

Antes disso, Dunga receberia todo o peso pela eliminação na Copa de 90 com a "Era Dunga", alcunha dada à Seleção de Lazaroni que muitas vezes privilegiava a marcação à arte que já rareava no futebol brasileiro.

— Estávamos os três na Seleção Brasileira de Sebastião Lazaroni: eu, Dunga e Renato — lembra Mauro Galvão.

— O time estava jogando muito bem em 89. Conquistamos a Copa América e nos recuperamos bem nas Eliminatórias. Foi tudo muito bem até chegarmos à Itália. Lá, o grupo já não estava mais fechado e tivemos muitos problemas que tiraram o nosso foco. Tudo conspirou para sermos eliminados pela Argentina nas oitavas (em uma partida na qual o Brasil dominou os argentinos, mas perdeu por 1 a 0, em um lance de Maradona, com gol de Claudio Caniggia). Dunga não perdeu a Copa sozinho. Acusá-lo foi uma forçação de barra. Ele conseguiu se reconstruir ao ser convocado pelo Carlos Alberto Parreira para a Seleção seguinte. O resto da história, todos conhecemos — acrescenta Galvão.

Curiosamente, Renato e Dunga voltariam para a Dupla nos anos 1990. Renato, no começo da década, em 1991, após o rebaixamento à Série B. Chegou para jogar três meses, emprestado pelo Botafogo. Disputou sem sucesso Gauchão e Supercopa dos Campeões da Libertadores. O Grêmio havia mudado, Assis surgia como o grande nome do time, e Renato não pôde ajudar.

Dunga foi vendido cedo pelo Inter. Em 1984, logo após conquistar o Estadual. Para o Corinthians. O Inter que o volante revisitou no final dos 90 não havia mudado tanto assim. O clube, que naquele Gre-Nal de Dunga x Renato correu o risco de ter parte da renda de Cr$ 27.703.300 penhorada por falta de pagamento à empresa que transportava a delegação para os jogos, seguia com problemas financeiros.

Dunga sofreu com Ronaldinho, um craque em ascensão no Gauchão de 1999, mas entrou para a galeria dos heróis colorados ao marcar o gol da vitória sobre o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari e preservar um dos maiores patrimônios do Inter: jamais ter jogado a segunda divisão.

Nesse domingo, no primeiro Gre-Nal da Arena, Renato e Dunga disputarão um tira-teima por um lugar na história do clássico. Uma vez mais.

Retrospecto Gre-Nal:

Renato como jogador
_ 15 jogos
_ 6 vitórias
_ 4 empates
_ 5 derrotas
_ Marcou 3 gols

Renato como técnico
_ 4 jogos
_ 1 vitória
_ 2 empates
_ 1 derrota

Dunga como jogador

_
8 jogos
_ 2 vitórias
_ 3 empates
_ 3 derrotas
_ Marcou 1 gol

Dunga como técnico
_ 2 jogos
_ 2 vitórias

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