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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A oito meses da Copa do Mundo, só quatro das 53 obras de mobilidade estão prontas no Brasil

Governo adiou duas vezes os prazos de conclusão, mas ainda assim boa parte dos projetos sequer chegou à metade

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A oito meses da Copa do Mundo, só quatro das 53 obras de mobilidade estão prontas no Brasil Montagem sobre fotos Divulgação e Lívia Stumpf/
 
Enquanto prefeituras Brasil afora retiram da lista de obras da Copa projetos que não ficarão prontos a tempo do Mundial, os que sobraram devem ser concluídas em cima da hora. Um atraso causado principalmente por erros de planejamento faz com que, a oito meses da abertura do evento, só quatro dos 53 projetos para desafogar o trânsito das 12 cidades-sede estejam concluídos no país.
Pouco se confirmou da promessa feita no longínquo janeiro de 2010, quando o governo federal definiu as obras de mobilidade urbana para a Copa. Segundo o plano, até o fim de 2012, a maioria dos projetos estaria pronta, para evitar atropelos de última hora. O prazo foi estendido duas vezes – primeiro, para final de 2013, depois para as vésperas do pontapé inicial, em 12 de junho de 2014.
Não adiantou. A 251 dias do primeiro jogo só há quatro obras prontas, e o legado da Copa será construído a toque de caixa.
Uma soma de problemas, como falta de planejamento e projetos malfeitos, explica a lentidão generalizada, segundo o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco. Em Porto Alegre, 10 projetos podem ser removidos da lista de obras da Copa porque não devem ser concluídos a tempo. O mesmo ocorre em outras capitais, que estarão enredadas em máquinas por mais tempo do que deveriam.
– A minha impressão é que a maioria não ficará pronta a tempo. E aí começarão a utilizar os planos B, C, D e E: suspender aulas escolares, restringir fluxo, usar bolsões de estacionamento. A mobilidade vai ficar para depois, e espero que não fique para a eternidade – alerta Castello Branco.
Mantra de autoridades ao justificar os gastos com o evento no país, o legado da Copa está longe de sair do discurso. Dos quatro projetos concluídos até agora, só um é de grande porte: a construção do Boulevard Arrudas, em Belo Horizonte, uma larga avenida de 3,5 quilômetros com ciclovia e viadutos (confira quais são os empreendimentos concluídos na página 5). Por meio de sua assessoria, o Ministério do Esporte afirmou que as informações sobre a preparação para a Copa no Brasil estão no Portal da Copa e na Matriz de Responsabilidades. Nenhuma autoridade do órgão se manifestou sobre o tema.
– Quanto maior o planejamento, menores os riscos de atrasos e maior a certeza quanto ao valor dos empreendimentos. Essa é a regra geral – afirma o ministro do Tribunal de Contas da União e relator-geral dos processos relacionados à Copa, Valmir Campelo.
INFOGRÁFICO: o legado da Copa para a mobilidade Boa parte das obras não passou de 50%O andamento dos projetos aponta para um cenário de canteiros de obras ao redor do país durante o Mundial. Boa parte dos projetos ainda não ultrapassou 50% de término – sendo que alguns estão recém no início, como o corredor BRT da Avenida Dedé Brasil, que vai até o Estádio Castelão, em Fortaleza (CE). Em Recife, um corredor de ônibus rápido vai ficar para depois do Mundial. O adiamento, segundo o secretário da Copa da cidade, Ricardo Leitão, ocorreu pelo foco nas obras do estádio.
– Tínhamos inicialmente 12 obras viárias e mais a construção da arena, que seria só para a Copa, mas a Fifa quis antes – diz.
Retirar os projetos da lista da Copa é uma forma de não perder os financiamentos federais, cuja condição era cumprir o prazo. Além de Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte também devem repassar as obras para o PAC da mobilidade urbana, mantendo as condições facilitadas de juros. Brasília e Manaus já haviam desistido de seus Veículos Leves sobre Trilhos, por atrasos e suspeitas de irregularidade.
– Os projetos vêm sendo feitos de uma maneira muito atabalhoada. As cidades já têm sistemas de transportes que funcionam de determinada maneira e as obras têm de ser inseridas para dar eficiência ao sistema – avalia o diretor do Instituto dos Arquitetos do Brasil e professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, Pedro da Luz Moreira.
Para o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, os atrasos resumem a concepção do que significa a realização do Copa no país:
– É uma irresponsabilidade. Há alto comprometimento do Estado brasileiro, e a capacidade de execução para cumprir o que é prometido é muito baixa. Não se trata meramente de algo que seja comandado pelo governo federal, envolve governos estaduais e municipais. É praticamente impossível fazer isso funcionar, o Brasil não tem essa capacidade. 


ZH

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